5 de outubro de 2024
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Artigo: Ativismo eleitoral de pré-candidatos à vereança – um debate necessário para o fortalecimento da democracia

Por: Luciléia Aparecida Colombo* e Hugo Grifoni**

Nos últimos anos, temos observado uma crescente movimentação entre os pré-candidatos a vereadores nos municípios do interior do Estado de São Paulo, com propostas envolvendo as mais variadas temáticas, entre elas, as que se destacam são a social e a econômica. Esse fenômeno, em que pese não ser exclusivo do interior do estado, tem se destacado pela intensidade e pela diversidade de estratégias adotadas. Mas o que esse ativismo significa para a democracia local? Quais são suas implicações para a política e a sociedade?

Como se sabe, o ano de 2024 será marcado pelas Eleições Municipais, em que os cidadãos exercerão seu maior poder – fruto da democracia moderna: o da soberania popular, especialmente por meio do voto. Insculpido no parágrafo único, do artigo 1º, da Constituição Federal, o exercício da soberania popular tem o condão de legitimar a vontade do povo ao eleger seus representantes. Entretanto, não é fácil ao cidadão-eleitor cumprir essa tarefa, especialmente porque o rol dos pré-candidatos está cada vez mais amplo e dinâmico.

Por conseguinte, tem-se que o ativismo pré-eleitoral pode ser entendido como o conjunto de ações e manifestações realizadas pelos pré-candidatos e pré-candidatas com o objetivo de conquistar a simpatia e o apoio do eleitorado, especialmente no período anterior ao início oficial das campanhas eleitorais. Essas ações incluem desde a participação em eventos comunitários até a utilização intensa das redes sociais para disseminar propostas e engajar eleitores. É um momento importante para a obtenção de apoio e, consequentemente, votos.

Uma das características mais marcantes desse ativismo é a tentativa de se aproximar das demandas e necessidades locais, especialmente com propostas sociais aos mais vulneráveis. Nos pequenos municípios, onde a proximidade entre eleitores e candidatos é maior, esse tipo de abordagem tende a ser bem recebido. Os eleitores valorizam a presença e o comprometimento dos candidatos com as questões que afetam diretamente suas vidas e com promessas que visam a melhoria das condições de vida.

Contudo, é fundamental questionar até que ponto essas ações representam um verdadeiro compromisso com o bem-estar da comunidade ou se são apenas estratégias eleitoreiras, sem respaldo para a concretização das promessas. Outro aspecto relevante que tem se observado diz respeito à profissionalização das campanhas, utilizando técnicas sofisticadas de marketing eleitoral. Cada vez mais, vemos pré-candidatos recorrem a marqueteiros, analistas de dados e especialistas em comunicação para planejar suas ações. Essa profissionalização pode contribuir para campanhas mais organizadas e eficientes, ao passo que levanta questões sobre a autenticidade das mensagens transmitidas, além do que tende a privilegiar os candidatos que possuem mais recursos financeiros. A personalização excessiva das campanhas pode levar à criação de figuras políticas que se assemelham a imagens irreais, do que propriamente representantes genuínos da população.

Nesse sentido, importante salientar o fato de que a partir do dia 15 de maio de 2024, pré-candidatas e pré-candidatos iniciaram a arrecadação prévia de recursos na modalidade de financiamento coletivo, observando-se a vedação de pedido explícito de votos. Dessa forma, isso nos leva a também refletir sobre a desigualdade entre potências, ou seja: (1) aqueles que possuem plena capacidade de desenvolver uma gestão pública eficiente, porém, carecem de bons relacionamentos que garantam volumosos recursos para a campanha atingir a maior quantidade possível de eleitores; (2) aqueles, conhecidamente como outsiders que, nem sempre apresentam propostas ou efetivam uma gestão pública eficaz e eficiente, porém, são bem relacionados e garantem a vitória com a utilização de recursos financeiros estratosféricos.

Assim, é importante que você, leitor, esteja atento aos planos de governo, mas não só: é importante que o político se apresente com um propósito e notadamente apto a desenvolver uma gestão pública desenvolvimentista à sua comunidade, com propostas reais e verdadeiramente executáveis e não somente com promessas vazias e que podem seduzir, mas não necessariamente com respaldo financeiro e judicial para serem implementadas.

Ademais, o ativismo de pré-campanhas no interior de São Paulo tem revelado um lado positivo ao incentivar a participação política e o engajamento cívico, à medida em que as pessoas estão falando de política e debatendo as agendas governamentais. Isso porque, a mobilização dos pré-candidatos e pré-candidatas pode despertar nos cidadãos um interesse maior pela política local e, consequentemente, fortalecer a democracia e a própria política. Contudo, é preciso estar atento ao risco de que essa mobilização seja pautada por interesses particulares (oportunistas), e não pelo bem comum. Por fim, é crucial que a sociedade entenda a importância do seu papel, não apenas no momento eleitoral, mas após as eleições. Cabe aos eleitores exercerem seu papel de fiscalização e crítica, avaliando cuidadosamente as propostas e as ações dos pré-candidatos e pré-candidatas, uma vez que toda atividade pré-eleitoral – e também em época de campanha – traz benefícios e desafios para a política local.

A democracia se fortalece quando os cidadãos estão bem informados e participam ativamente do processo político.

* Luciléia Aparecida Colombo é Professora de Ciência Política da UNESP

** Hugo Grifoni é Advogado, Administrador Público e Professor em Araraquara (SP).

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.